terça-feira, janeiro 11, 2005

Texto de Estréia

Eis o texto de estréia (em primeira mão). Só espero que Renilton, editor da Folha do Povo, não fique zangado por eu publicar o texto aqui antes mesmo que saia lá. O segundo texto já está pronto, mas acho mais prudente esperar um pouco antes de postá-lo aqui...

NOTAS DE APRENDIZ

Notas de Aprendiz não é desses projetos que nascem e passam anos engavetados, aguardando ser levados a algum editor de jornal que os publique. Pelo contrário, hoje mesmo surgiu, hoje mesmo levo o piloto para que Renilton veja se é pra dar mais corda. Não sei o que eu poderia acrescentar na vida de quem porventura esbarrar comigo por aqui. São notas de uma aprendiz. Aprendiz de escrita, aprendiz de vida.
Escrevo sobre o que me vem à cabeça, ainda não sou tão madura a ponto de saber ordenar direito, em escala de importância, as coisas que penso – ou que deveria pensar. Penso, escrevo, não necessariamente nesta ordem. E ainda não consegui livrar-me do mal que é falar mais do que escutar. Por causa disto, já dei com os burros n’água umas tantas vezes, coisa típica de quem está aprendendo. Eu devia ter uns 9 anos quando escutei, pela primeira vez, uma linda composição de Beto Guedes que diz: “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender.” Sempre ouvi que aprendemos com nossos próprios erros. O que deveríamos tentar, e que certamente seria de maior prudência, seria aprender com os erros alheios. Mas a ironia é que, pra entender isto, tem que ser por conta própria.
Faz muito tempo que me meti a escrever, mas antes arquivava quase tudo sem que outros lessem. Depois de algum tempo, relia os textos, deletava a maioria. Dos mais antigos só me lembro de haver guardado um, que chamei de “Senhora Infância”. Não concordo com a maioria das coisas que estão ali, mas guardei por motivos que nem sei, acho que só pra voltar sempre à mesma certeza, a de que escrever é arriscar-se. Escrever é deixar opiniões documentadas, é estar presa a frases que terminam por descrever o autor, por mais impessoal que o texto possa parecer. Escrever é dar sentença sobre isto e aquilo.
Meu ex-professor no curso de Comunicação Social da UFMG, Anis Leão, disse no primeiro dia de aula que cinema só foi arte enquanto preto-e-branco. Guardei. Julguei. E percebi que falar também é arriscar-se, porque certas frases simplesmente não se apagam. Mesmo que ele tenha mudado de idéia, ainda guardo o tom de voz e a veemência com que afirmou: “Gosto de filmes antigos. Em preto-e-branco. Porque Cinema só foi arte enquanto preto-e-branco”. Mas ali estava alguém que sabe das coisas, gente que está algumas décadas de vida e dezenas de metros de livros à minha frente. E é com tristeza que reconheço que não me lembro de muitas coisas que nos ensinou em aula, além desta frase que meu cérebro, arbitrariamente, selecionou para guardar. Lembro também de tê-lo visto carregando uma pilha de caixas de bombons, entre as prateleiras do antigo Supermercado Popular. Foi muito bom saber que temos tanto em comum, mas acho que ele ainda não sabe. Anis gosta de cinema, Anis gosta de literatura, Anis gosta de ler a Bíblia, Anis gosta de escrever, Anis gosta de chocolate. Agora estou aqui, pleiteando um “buraco de página” ao lado dele, na Folha do Povo, e digo que daqui uns anos quero ser aprendiz como ele: cheio de coisas para ensinar, mas com postura de quem apenas começou a aprender.
Sobre o que será esta coluna? Sei não. Sobre um monte de coisas. Política, chocolates, literatura, coisas da cidade, música, casos antigos, futebol, filosofanças, e sobre nada, principalmente.
Porque é melhor assumir que vai haver dias em que não encontrarei nada de interessante a dizer.