A volta do clássico das multidões
América Mineiro para mim é sinônimo de pai. E pai, todos sabem, é coisa de primeira divisão. Desde já, devo esclarecer que sou atleticana. Muito atleticana. Demais, até.
Mas o América é o time do meu pai e foi por isso que, ao lado dele, vivi em 2009 a expectativa de que o Coelhão subisse à Série B e passasse a figurar entre os 40 principais times do Brasil. A final da Série C foi disputada no Estádio Independência, contra o Asa de Alagoas. Havia 38 anos que meu pai não ia a um estádio na capital mineira para ver seu time jogar. Naquela tarde de casa cheia, o sol brilhante anunciava que o América ressurgia.
Ingresso na catraca, corações acelerados, entramos com reverência no antigo Campo do Sete e nos misturamos aos outros dez mil torcedores que cantavam forte e bonito (que Kombi, que nada!). Diante daquele mar verde-negro, papai não conteve a emoção e deixou rolar algumas lágrimas. Abracei-o. Poucas vezes senti-me tão próxima daquele homem que me ensinou tanto do que sei. Durante o jogo, senti o que é ter seu sangue em minhas veias. Torci, gritei e me emocionei como se eu fosse ele, como se o time fosse ele, como se o mundo fosse nosso e aquele momento, o último de nossas vidas.
Na hora do gol, quanta emoção da torcida ao ver seu gigante despertar-se de um sono longo e profundo! Sim, o América Mineiro enfim honrava sua história e estava de volta à Série B.
O ano de 2010 não foi fácil para o Coelho, mas a luta valeu a pena. A base que disputou a série C foi mantida e os jogadores, guerreiros incansáveis, superaram seus limites e levaram o time a nova ascensão. O América Mineiro merece estar na elite do futebol brasileiro. E merece também a chance de aproveitar os jogadores que revela. Quero ver o time bonito quando conseguir segurar em seu elenco grandes estrelas como as que já surgiram em seus domínios: Tostão, Éder Aleixo, Palhinha, Ronaldo Luiz, Euller, Gilberto Silva, Evanilson, Alex Mineiro, Fred (atualmente no Fluminense), Danilo (atualmente no Santos), todos revelados pelo América.
Quero, sempre que vir o time verde-negro no gramado, lembrar-me daquela tarde com meu Antônio Gontijo. Lá, quando ele e eu nos abraçamos, campeões, senti algo difícil de explicar: meu mundo preto e branco se fundiu com o dele, preto e verde, e o novo ano se encheu de esperança. O resultado disso é que passamos 2010 torcendo juntos, eu e ele pelo Coelho, ele e eu pelo Galo, e até minha mãe passou a ver os jogos conosco.
Nem por isso a vida tornou-se mais fácil, mas, definitivamente, tornou-se mais bonita.
Ano que vem tem Galo e Mecão pelo Campeonato brasileiro. Ano que vem tem a volta do antigo clássico das multidões!
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