terça-feira, junho 07, 2005

Desencapetamento Total

Recebi por e-mail a foto de uma placa de uma igreja neopentecostal, com os seguintes dizeres:
“Se você é vítima de: olho gordo, inveja, doenças incuráveis, vícios, dívidas, miséria, solidão, é infeliz no amor, cisma que é vítima de trabalhos feitos na macumba, bruxaria, feitiçaria, e nada dá certo, venha receber a prece violenta e seja liberto de toda a opressão”.
Não sei o que é mais pitoresco, se é a expressão “prece violenta”, eufemismo de “reza braba”, ou se é a novíssima concepção de que, se estamos endividados, somos na verdade vítimas de dívida. É tão fácil colocar-se como vítima e responsabilizar o “cramunhão” por todas as misérias humanas!
Quando um lar se despedaça, tem sempre alguém dizendo que uma prece violenta resolverá o problema, mas se esquecem de dizer que precisa haver mudança de atitude. A discussão aqui não é se o diabo realmente existe. O que acontece é que, exista ele ou não, o apóstolo Paulo ensinou uma maneira melhor de espantá-lo: “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Resistir ao diabo não é gritar com ele batendo os pés no chão. Não é passar óleo bento nos cantos da casa, carregar saquinho de sal dentro da bolsa ou deixar a Bíblia em cima do criado-mudo aberta no salmo 91. Não é tomar banho com o sabonete do descarrego, não é levar para casa folhas de arruda, que agora viraram “ramos de oliveira do Getsêmani”. Não é dependurar terço no retrovisor do carro ou carregar uma prece dentro da carteira. Quando o apóstolo fala sobre resistir ao diabo, isso deve ser entendido dentro do contexto. Ele se refere à obediência a Deus, à motivação certa, ao coração sincero. Quando alguém se sujeita ao modelo de vida pensado e projetado pelo Criador, está automaticamente resistindo ao mal.
A história nos tem provado que Deus se compromete com pessoas íntegras de coração. Mas compromisso de Deus não quer dizer ausência de sofrimento. Há igrejas que prometem curas, milagres, prosperidade, como que num passe de mágica. Mas a história nos mostra homens consagrados a Deus sendo decepados, seus filhos sendo cortados ao meio, servindo de comida aos leões. Muitos são os tratados sobre a origem do sofrimento humano. De concreto, nada se concluiu. Mas algumas coisas podem ser observadas, entre elas, a percepção de que milagres e curas maravilhosas nem sempre levam o homem a uma adoração sincera a Deus.
O que define o tipo de relacionamento que uma pessoa terá com seu Deus é sua motivação. Se ele está interessado em bênçãos, muitas vezes receberá, outras não. E, quando não receber, logo se afastará, decepcionado. Mas aquele que se aproxima porque precisa relacionar-se com o Criador, este se tornará maduro tanto para receber bênçãos quanto para passar por provações. Este será como uma casa construída sobre terreno firme, que subsiste e é construída de dia em dia, e não de uma hora para outra.

Ao escolher sua linha de trabalho, uma igreja define o tipo de cristão que dela se aproximará. Se pregar tão somente bênçãos, curas, milagres e sinais, provavelmente receberá pessoas interessadas em barganhas com Deus. Mas, se a mensagem for de relacionamento com o Criador e também com os semelhantes, então se achegarão pessoas interessadas em um amadurecimento genuíno, seja por meio de coisas boas ou de coisas ruins.