quinta-feira, janeiro 12, 2006

VENENO ANTINOSTALGIA

Recebi por e-mail um arquivo de PowerPoint e, estivesse eu com um pouco mais de sono, teria apenas lido o texto como quem não quer jogar correspondência fora antes de ao menos saber o que é. Mas a verdade é que o que encontrei ali acabou dando pano pra manga. Separei o texto em algumas partes e hoje falarei sobre a primeira delas:
“Quero voltar a confiar. Fui criado com princípios morais comuns: quando eu era pequeno, mães, pais, professores, avós, tios e vizinhos eram autoridades dignas de respeito e consideração. Inimaginável responder de forma mal educada aos mais velhos, professores ou autoridades… Confiávamos nos adultos porque todos eram pais, mães ou familiares das crianças da nossa rua, do bairro, ou da cidade... Tínhamos medo apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror… Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos, por tudo o que meus netos um dia enfrentarão”.
Pode ser que os mais novos não dessem más respostas por respeito e consideração aos mais velhos. Mas será que talvez (apenas talvez) o motivo por que se calassem não era o medo? A geração de nossos pais aprendeu com os pais, que aprenderam com os pais, que aprenderam com os pais que cada malcriação deveria ser punida severamente de forma a evitar reincidência, e cale-se e não reclame. E é assim porque eu disse que é assim, e não venha querer questionar. E não duvide dos livros, muito menos dos professores, senão você vai ser expulso da escola, ou, o que é pior, vai para a turma onde estão os alunos atrasados e lentos para obedecer. E nem vem que não tem, que você vai ser é doutor, que aqui em casa não se cria filho para ser artista. E mulher filha minha não trabalha fora. E tem que arrumar marido filho de doutor fulano, porque se for de família “ruim” é melhor que não se case. Naquele tempo, e um pouco ainda hoje, criança não tinha muito valor por aquilo que era, mas sim pelo fato de que nela estava a promessa de vir a ser um adulto valoroso.
Ainda sobre o texto, quando li: “Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos, por tudo o que meus netos um dia enfrentarão”, logo me respondeu o autor de Eclesiastes: “O que foi será, e o que se fez se tornará a fazer. Nada há de novo debaixo do sol. Mesmo que alguém afirmasse de algo: ‘olha, isto é novo!’, eis que já sucedeu em outros tempos muito antes de nós. Ninguém se lembra de seus antepassados e também aqueles que lhes sucedem não serão lembrados por seus pósteros” (Eclesiastes 1:9-11).
Assim tem sido. Este é meu veneno antinostalgia.