QUANDO A CIDADE AMANHECEU EM MIM
Santiago amanheceu em mim. Estou feliz que isto tenha acontecido agora, porque seria muito dificil passar a amar a cidade no final de dezembro.
Eu sabia: a cidade nao é ruim; eu é que morava mal.
No feriado da Semana Santa fui com duas professoras daqui a Valparaíso. A viagem foi ótima e divertida. Eu nao sabia exatamente o que esperar, entao foram varias as surpresas que tive na cidade linda e feia e suja e colorida e charmosa e caótica e cheia de morros, gentes, peixes, frutos do mar, gringos, odores, calores, sorvetes, lindas vistas, e o porto, um estranho passeio de barco, e muitos morros num sobre e desce sem fim, elevadores na diagonal, e por fim bares e mais bares, a boemia de que tanto nos falou Pablo Neruda.
Por falar nele, visitei La Sebastiana, sua casa em Valparaiso, uma tetéia.
De volta a Santiago, peguei minhas tralhas na casa de Elsa e me mudei de lá. Na saída, Gato rosnou pra mim (tenho quase certeza). O hamster que tanto atrapalhou minhas noites de sono em sua roda para ratos, esse nao me viu sair. E, enquanto eu lavava meu ultimo copo na pia, me apareceu um morador de um dos quartos da frente. Entao era verdade.
Saí sem deixar saudades, passei a semana feliz em meu novo velho apartamento, com pessoas extremamente simpáticas e alegres, que me receberam com ovinhos de páscoa e aulas de Espanol gratuitas. Mas só me ensinam o que nao presta.
Willy (na verdade Guillermo) está no ultimo ano de Arquitetuta. Sua colega de sala, Loreto, é uma linda chilena que também vive conosco. E tem o Jaime, que trabalha com producao de video em um canal de Tv local. Somos todos mais ou menos da mesma idade.
O carpete é velho e meu colchao é tao macio que está entortando minha coluna, mas eu estou feliz. Minha vista é um cartao postal enorme e ao vivo, e eu nao paro de contemplar o fato de estar morando ali no centro do bairro Providencia. Da minha janela (13o andar) eu vejo grande parte da cidade e, ao fundo, a cordilheira. Ô dó de mim...
Na escola continua tudo bem. Novos professores continuam chegando e eu continuo sendo a unica professora de Ingles nao-nativa, o que me lisonjeia ao mesmo tempo em que me deixa preocupada e com medo de nao dar conta do recado. Bobeira minha, talvez. Ou talvez nao.
Final de semana será light, todo mundo quebrado porque só receberemos nossos salarios no dia 05.
E, de mais a mais, estou feliz por estar aqui. Cada vez mais.
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