quarta-feira, abril 09, 2008

Eu não posso ser normal. Uma pessoa que se delicia lendo uma gramática de Espanhol não pode ser normal. Ainda mais num sábado a noitinha, enquanto espera para sair com amigos e escuta versoes remix de Nina Simone, Willy Lobo, Billie Holiday e tals, uma seleção de extremo bom gosto lançada pela gravadora Verve; e Gotan Project.

A vida social aqui tem sido intensa, bem mais do que estou acostumada. Galera quer sair todo dia, acende um cigarro no outro e entorna litros e litros de piscola - um troço forte e meio doce, pisco com coca-cola. Eu tomo suco e água.
Quanto mais bebem, mais embolado conversam, eles que falam o Espanhol como nós mineiros falamos o Português: cortando os finais das palavras.

Ontem tive certeza de que eu moro muito bem. Num raio de duas quadras da minha casa a cidade ferve. Muitos cafés, restaurantes, bares dançantes, clubes noturnos. E as pessoas saem a pé, chega a ter engarrafamento de pedestres na calçada à meia noite de sexta-feira.
Ontem eu e Kristin nos demos de presente um jantar fino num restaurante delicioso, em uma mesa com vela, na calçada. Risotto de frutos do mar acompanhado de cabernet sauvignon servido em taças robustas. Um deleite só.

Mais tarde saí com o pessoal do apartamento. Fomos a um bar dançante onde quase todo mundo era quase bonito ou quase feio. Nunca inteiramente uma coisa ou outra, apenas quase.
Hoje eu fui convidada para um churrasco de bolivianos em um parque, onde Kristin ia se encontrar com seu novo paquera. Mas eu não fui. Preferi almoçar com Jaime - um dos meninos do apartamento - num restaurantezinho bem simpático aqui por perto, pra depois voltar pra casa, escutar musica, me pendurar na internet, estudar Espanhol, lavar roupa, cabelo e louça, escrever emails, tudo com tempo, tudo bem light.

O verão já deveria ter dito adeus, mas acho que decidiu passar o outono aqui com a gente. Amanhece e anoitece friozinho, mas durante o dia o calor é bem forte.

No metrô para o trabalho, já sei exatamente em qual vagão devo estar para não ser sufocada, e para depois pegar a combinação com a outra linha sem ter que esperar. Isso tem poupado bons minutos do meu dia e me sinto menos cansada.
Ainda sobre o metrô: quando eu tinha 1 ano peguei cecê da minha babá. Aos 10, de uma colega de balé que usou meu colant. Aos 20, de uma colega de intercâmbio que usou minha roupa e eu não lavei antes de usar. Uma coisa que me a vida me trouxe a cada nova década, mas agora me recuso a aceitar. Agora cheguei aos 30 e não tenho cecê, e não quero ter cecê, e procuro manter minhas axilas bem travadas enquanto trabalhadores mal cheirosos erguem seus braços entre um vagão e outro. Por enquanto, tudo bem.

As aulas estão ótimas e os alunos das empresas são dedicados e curiosos. Na escola, os professores são tão divertidos quanto festeiros, num ritmo que não é meu. Gosto de sair, mas gosto também de ter um tempo para mim, para minha música, meu quarto, meus livros, minha bíblia, e pra ficar pensando com meus botões. Sem isso praticamente inexisto.
Da minha janela continuo deslumbrada com a vista, mas a poluição às vezes me priva de ver a cordilheira, como hoje, por exemplo. Dizem que no inverno chove bastante, então fica tudo limpo.

Comecei a fazer caminhada e já arrisquei umas corridas de um poste ao outro no final. Mas sei que tenho que ir devagar. Emagreci um pouco já desde que cheguei aqui, porque ninguem precisa pesar 68kg quando se mede 1,69m. Não mesmo.

Acho que é só. Depois conto mais.