Se não existisse Valparaíso, Santiago seria a capital dos cachorros de rua. Vivo em um conjunto habitacional que fica em um arvoredo com pracinhas, caminhozinhos e playgrounds. Tão simpático quanto antigo. Aqui vivem muitos estudantes e muitos aposentados. Tudo meio decadente, mas é o coração de Providência, então estou muito feliz. E, como em todo canto da cidade, aqui vivem muitos cães.
Tem um que odeia pessoas aleatoriamente, e às vezes odeia alguém de manhã mas não à tarde. Mas então eu descobri que ele não gosta mesmo é de sacolas de plástico. De forma que, se você passa por ele com sacolas de plástico, existe grande chance de que ele avance em você. Não chega a morder, apenas encaixa a boca na sua canela, o que já é suficientemente assustador.
Mas não o culpo: imagino a raiva que ele sente quando neguinho passa com suas sacolas cheias de guloseimas, e fome pra cão de rua! Imagino a raiva que ele sente ao cheirar o sanduíche suculento dentro de uma sacola de plástico, e fome pra cão de rua!
Não defendo nem ataco. Apenas sei que, se não existisse Valparaíso, Santiago seria a capital dos cachorros de rua.
ps: nas duas últimas semanas o frio se comportou e já não estou com tanto medo do inverno. Ainda não.
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