sexta-feira, fevereiro 17, 2006

DEUS É SÁDICO?

Pode parecer estranha a pergunta (herética, talvez?), mas é exatamente a ela que algumas práticas religiosas nos conduzem quando paramos para pensar. Então paremos e pensemos. Deus é sádico?
Imagine um filho que resolve agradar a seu pai. Quer vê-lo feliz. Então chega e anuncia: “Papai, tomei algumas decisões para os próximos quarenta dias. Ficarei sem tomar café da manhã e só comerei após o meio-dia. Nem mesmo um copo d’água será permitido antes desse horário. Também subirei e descerei a escadaria do prédio 12 vezes todas as manhãs, de joelhos (sem café da manhã!!). Isto, papai, é para lhe mostrar que o amo e assim você permitirá que eu chegue perto quando eu precisar de um abraço.”
Qualquer um sabe que o café da manhã é a mais importante das refeições e que nosso organismo precisa de muita água. E pai algum gostaria de ver seu filho privado de alimento. Alguns pais seriam capazes de roubar e matar para dar de comer a seu filho. Que agrado de filho é esse, então? Pela lógica, o pai ficaria infinitamente mais feliz com um simples abraço ou com uma manhã de domingo juntos no clube.
Mas parece que às vezes nos esquecemos de que Deus é um Pai ardendo em amor por seus filhos. E, mais, que seu amor é incondicional. Falar de amor incondicional incomoda a muitos, porque o termo pode conduzir à idéia de libertinagem, de ausência de limites. Nada mais longe da verdade bíblica. O amor incondicional de Deus deveria gerar desejo de reciprocidade. Normalmente, quando percebemos que alguém gosta de nós, passamos a querer o bem de tal pessoa, a não ser em casos de sadismo.
Deus nos ama. Pela lógica da Graça (favor imerecido, gratuito), não poderia esperar que o agradássemos para que Ele então nos amasse. Ao contrário, o Grande Arquiteto do Universo nos amou primeiro e aguarda “ansiosamente” pelo momento em que nos achegaremos a Ele em busca de um simples abraço, ou à procura de uma manhã de domingo juntos.
Tudo quanto foi feito, por meio do Filho, foi para que pudéssemos estar perto Dele. “Ora, aquele que entregou seu único filho por vocês, não lhes daria juntamente com ele todas as outras coisas?”. E, mais: “Pedis e não recebeis porque pedis mal”.
Daí que, quando quisermos um favor do Pai, é melhor que nos aproximemos para descobrir a vontade Dele, para entender quais são Seus sonhos para nós, e então aprenderemos como pedir a coisa certa. Porque, de mais a mais, não é em subidas à escada da Penha que Ele está interessado. Isso somente um Pai sádico gostaria de receber como afago. E não somos insensatos a ponto de crer que o Criador é assim.
Carnaval taí. Depois vem a quaresma. Em vez de prometer sacrifícios, aproximemo-nos do Pai. É com grande espectativa que Ele aguarda este momento. Há várias quaresmas.
PS: não é objetivo deste texto discutir a legitimidade do jejum, mas, antes, afirmar a necessidade de um relacionamento com o Pai.