quarta-feira, janeiro 30, 2008

ESCRITO NO DOMINGO, 27/01/2008

Hoje estou menos inspirada, com fome e com mau humor por causa da fome. Mas quis escrever antes de comer. Entao ai estah, sobre meu curso...

Caminho agora para o final do curso. Estou ainda meio sem entender como eles conseguem condensar tanta coisa em tao pouco tempo, e ao mesmo tempo colher tantos resultados. Estou boba com o quanto aprendi nessas semanas, e com o quanto passei a refletir mais sobre a minha pratica. Nas ultimas semanas demos aulas para Japoneses, Coreanos, Franceses, Italianos, Espanhois e Peuanos, Turcos, Arabes, Alemaes e Arzerbajanos, e quem mais aparecesse na sala de aula. Nao tinha nenhum Brasileiro, porque a massa auriverde se aglomera em outras escolas que nao sejam a absurdamente mais cara International House. Mas tem valido cada centavo. Eles realmente fazem jus a fama de melhores preparadores do CELTA (Certificate of English Language Teaching to Adults) autorizados pela Universidade de Cambrigde em Londres. Meus Reais ficaram felizes e satisfeitos por terem-se transformado em matricula e curso. :o)

Meus colegas sao muito interessantes, cada qual do seu jeito. Nos somos dez professores em treinamento. Sete sao ingleses, sendo que uma mora na India e leciona Ingles em um mosteiro budista. Dos tres nao ingleses, tem uma menina que eh coreana, mas cresceu na Alemanha e foi alfabetizada e educada em Ingles, num colegio americano. Tem uns 23 anos e fez mestrado em Londres, em Linguistica Aplicada. A outra nao inglesa eh uma suica que cresceu na Italia e fez faculdade na Inglaterra. Um doce de menina. E tem eu, uma Brasileira que cresceu no Brasil, foi educada no Brasil em Portugues do Brasil.
Mas, o que poderia ser motivo para me deixar pra baixo, para fazer com que me sentisse menor, acaba tendo suas vantagens. Eu e a italiana/suica aprendemos Ingles como nossa segunda Lingua, e por isso temos mais nocao das dificuldades envolvidas no processo de aprendizagem, e por isto fica mais facil prepararmos as aulas e explicar aos alunos aquilo que um dia ja nos causou problemas, quando comecamos a aprender.
Ou seja, eu SEMPRE terei a desvantagem de nao ser falante nativa, mas sempre terei a vantagem de ter passado pelo mesmo processo que meus alunos. O que eu tenho a fazer eh me conformar com a desvantagem e aproveitar a vantagem.

O curso tem me tomado todo o tempo e mais algum. Mas decidi mesmo que iria me dedicar bastante durante estas semanas, para aproveitar Londres depois que o curso terminar. Nao me arrependo da decisao.

Meus professores/treinadores sao espetaculares. Um se chama Duncan, e' engracadissimo sem fazer forca para ser, tem uma expressao corporal de fazer inveja na maioria dos professores de Linguas, tem uma letra linda e faz com que nos sintamos seguros. Tem uma filhinha nenem e nos finais de semana fica de pai coruja e sai para passear com a familia. Um gentleman.
Jonathan eh otimo tambem. Presenca calma, fala baixo e tem a voz linda. O sorriso dele eh a coisa mais acalentadora e ao mesmo tempo estonteante que ja vi. Se fica sem graca, fica vermelho na hora, o que eh divertidissimo. Nao sei se eh casado ou se eh solteiro. So sei que nos finais de semana pratica remo, e sei tambem que fala Portugues fluente, porque morou no Brasil um ano e em Portugal dez anos. Nunca conversamos em Portugues, porque na escola eh proibido. Eu, curiosissima, ainda vou pega-lo na reta, na saida da escola, pra conversarmos em Portugues, isto eh, se ele conseguir entender meu sotaque mineiro que engole as palavras no meio.

Amanha vou levar copias de um CD de musica Brasileira que gravei para eles. Elis, Maria Rita, Marisa Monte, Tom Jobim, Chico, Caetano, Milton Nascimento, Jorge Ben, e tals.
Espero que eles gostem, ou que pelo menos escutem.

Hoje nao falei da cidade. Mas ela continua muito linda, obrigada.

E, ao contrario do me disseram, aqui NAO e' o tumulo mundial da culinaria. Tenho comido muito bem, para minha felicidade.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

O curso, esse tal que tomou conta geral do meu tempo

Eu sei, eu sei. No ultimo post eu disse que escreveria contando sobre o curso. Mas o cujo dito tem tomado tanto meu tempo, mas tanto (aulas e tarefas de casa), que ainda nao tive como me sentar para escrever. Para falar verdade, tempo para comer e dormir tem sido artigo de luxo, coisa rara. A boa parte e' que estou me saindo bem, e, o que e' melhor e mais importante, estou aprendendo muito do que nao aprendi em tantos anos de pratica. Esses ingleses sao bons mesmo. Uau.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

London e eu

Entao e' assim. A maioria das coisas que lemos nos livros sobre Londres sao verdade. Em parte porque sao verdadeiras mesmo, mas em parte porque os ingleses fazem questao de que seja assim, e de uma forma as vezes pouco natural. Novos onibus, novas cabines telefonicas, novos taxis, tudo sempre imitando o estilo antigo, tudo determinado por lei. Mas isso acaba sendo bem positivo, porque a cidade continua linda e harmonica, sem aquela coisa belorizontesca de ter uma Rainha da Sucata (nome dado a um predio em Belo Horizonte) fincada na Praca da Liberdade, esquisitissima embora premiada, brigando contra (e perdendo feio para) a arquitetura mais antiga que ali se encontra. Londres e' harmonica mesmo sendo diversa, e nao e' rara a impressao de que se esta' sempre na mesma rua. Ao mesmo tempo, tem-se a estranha sensacao de que aquela ali e' na verdade alguma outra rua, apenas porque agora voce esta' vindo no sentido oposto. Dizer que Londres e' maravilhosa e' chover no molhado. Entao passo agora a falar sobre as minhas aventuras e desventuras na terra de Britannia e John Bull.

SAINDO DE MILANO
Isabelle Nassar e sua roomate Mirelle me levaram ao aeroporto de Linate. Foram dias maravilhosos, muita risada, muitos passeios, muita comida, e o grande alivio: eu ainda consegui entrar na minha calca jeans mais justa, para estrear meu novissimo e arrasante par de botas que foi meu unico souvenir de Milano. As meninas que moram com Isabelle (Amanda e Mirelle) sao otimas, fui extremamente bem recebida, me senti em casa. Isabelle, a menina de 14 anos de quem me despedi no final de 2002, definitivamente se transformou numa moca maravilhosa, em todos os sentidos: irritantemente linda, charmosa e alta, olhos marcantes, estilosissima, inteligente e culta. Modelo em Milao, ja comprou um apartamento em Sao Paulo. Tem um otimo gosto para musica e cinema, eh ligada em Historia da Arte, esbanja simpatia por todos os poros e e' meiga, doce, embora forte e decidida. Sai' de Milao sentindo que nem maquiagem nem roupa bonita poderiam restaurar minha auto estima. (brincadeira, obvio. Belle e' um espetaculo e poder reve-la foi um presente de Deus para mim. Adorei!).

O AEROPORTO EM LONDRES
Esta' confirmado. Eu tenho talento para entrar em enrascadas quando o assunto e' aviao/aeroporto. Mas tambem acabo sendo extremamente sortuda, porque tudo sempre se ajeita no final, sem grandes prejuizos. De perder o passaporte no gigantesco aeroporto de Miami a ter traveler's cheques roubados (dentro da minha carteira!!! Ate' hoje fico imaginando o que aconteceu) tambem em Miami, e tambem ter uma camera fotografica digital, um mp3 player, dinheiro e um documento roubados por funcionarios larapios da companhia aerea no Brasil... Desta vez tive as malas extraviadas pela Alitalia ao chegar em Londres. Mas ja as recuperei. Em meio a tudo isso eu fico imaginando se algum dia eu vou conseguir ter uma viagem normal.
Leo me esperou em Heathrow por duas horas, mas no final eu cheguei bem e dei nele um abraco com anos de atraso.

LEO
Um amigo muito querido que conheci em um retiro das igrejas batistas de Itauna e Mateus Leme. Estudou Teologia na mesma faculdade que eu e tambem vivia na 'ponte aerea' Bh - Mt Leme - Itauna, ate se casar com uma inglesa. Mora numa cidadezinha ao Norte de Londres. Me buscou no aeroporto e me trouxe a casa da minha prima, Fernanda.

FERNANDA
Faz parte de meus quase 80 primos de primeiro grau. Nao, isto nao e' figura de linguagem. O numero e' bem este. E' pouquissimo mais velha que eu e e' filha do tio Zezinho, falecido irmao de meu pai. Ela mora em Londres ha 7 anos e ano passado comprou seu apartamento proprio, pertinho do Big Ben. Me recebeu com um almoco muito gostoso, me levou para passear, me levou ate' a escola no primeiro dia, e tem sido uma companhia perfeita para as noites frias e longas de inverno em Londres. Eu nao poderia estar mais feliz.

O LONDRINO
O humor deles costuma variar com o tempo, assim como o meu varia de acordo com a fase do mes, se voce me entende. Entao, meu relacionamento com os londrinos esta' sujeito a muitas variaveis. Ontem, sabado, o dia amanheceu ensolarado. As pessoas sorriam na rua, conversavam, passeavam com seus cachorros, as criancas corriam nas ruas e pracas. Londres estava iluminada. E foi ai' que eu nao reconheci as ruas mesmo. Tudo ainda muito mais lindo, mas lindo de doer a vista. Fernanda passeou comigo, fomos a St Paul's Cathedral, depois descemos pro rio Tamisa, atravessamos a Ponte do Milenio, tiramos fotos (eeeh!!!) e caminhamos pela orla do rio, na hora em que ele estava bem cheio. Os pubs estavam lotados e as pessoas caminhavam felizes. Dois brasileiros nos viram falar Portugues e foram caminhando conosco. Atravessamos a Westminster Bridge e eu tipo me senti muito fazendo parte da minha musica preferida dos Kinks: Waterloo Sunset. Tudo bem que a Waterloo Bridge fica um pouquinho pra cima (ou para baixo) e eu tinha passado nela na vinda, mas a sensacao e' a mesma, tenho certeza. Quando o Big Ben anunciou quatro e meia, minha prima teve que se despedir, mas os dois brasileiros se ofereceram para me levar a Chinatown. A moca, Isabel, mora em Londres ha 4 anos. O moco chegou ha 2 meses, mas ja conhece a cidade bem. Fomos ao Soho, Chinatown, depois a uma livraria para que eu pudesse comprar um livro sobre a Gra-Bretanha, sua geografia e historia e costumes e politica e tal... E depois nos sentamos em um cafe. Fechamos o dia na Virgin Records, com seus varios andares e tanto cd que me deixou tonta. Ao contrario do que pensei, muita coisa barata. Mas, infelizmente, a realidade e' que nao vim fazer compras.

Ainda nao contei sobre o curso, mas o email ja esta muito longo e vou deixar para contar na proxima semana.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Milano e eu

Se cheguei bem? Bem... No voo de Guarulhos para Malpensa, uma senhora teve um ataque cardíaco e tivemos que voltar meia hora até Natal, RN, para que ela fosse atendida. O custo disso foram 4 horas de atraso mais seis toneladas e meia de combustível. Ainda bem que, na saída do avião, em Milão, a comadre estava lá. Ela tinha seguido viagem conosco e tinha agora a carinha boa só cê vendo. Com direito a bochechas rosadas e tudo mais.
Em Milão, Isabelle não passava bons pedaços: quatro horas a me esperar, eu, uma amiga que ela não via há cinco anos. Deve ter tido vontade de pegar o primeiro taxi de volta pra casa e me mandar sabe pra onde. Mas ela é legal demais pra isso. Me recebeu com a melhor carinha do mundo, passamos em casa para deixar as malas e saímos, felizes da vida, colocando em dia a prosa de mil anos, comendo pizza italiana em um charmoso café, visitando as lojas do shopping da Duomo, e a própria catedral, Duomo de Milano, com sua opulência que dispensa comentário.
Hoje, no meu segundo dia, recebemos a visita da neve, que no início é mesmo linda de se ver. Amanhã é que o chão começa a ficar preto e sujo e feio e chato e ruim. So far, so good. Tão bom quanto o canoli siciliano que comi numa doceria, recheado com um creme branco mais gostoso que doce de leite. Minha sorte: depois de amanhã sigo para Londres, túmulo mundial da culinária.