quinta-feira, maio 22, 2008

Texto que na verdade era um email

Depois de passar duas semanas com preguica de escrever - mas tambem a falta de novidades foi causa de minha ausencia - agora estou aqui na escola sem poder sair, porque o ceu resolveu desabar e eu esqueci minha sombrinha em casa, minha linda sombrinha vermelha.
Nao gosto de escrever aqui porque o computador deles nao tem acento agudo nem circunflexo nem cedilha. E o til, a que Kristin se refere como "that funny guy", deve estar em algum lugar nesse teclado andino, mas ainda nao fui capaz de encontra-lo.
Maisintao. Vidinha aqui continua na mesma, com a diferenca da chuva. Aqui so chove mesmo no outono e no inverno. Isso quer dizer que as ruas agora, alem de frias, tem cheiro de cachorro molhado, porque a populacao deles eh muita, e poucos os donos para eles. Aliazmente - como disse no meu blog - se nao existisse Valparaiso, Santiago seria a capital dos cachorros de rua. Outro dia eu estava indo para casa e vi um montinho colorido em um ponto de onibus. Olhei bem, era um bolinho de caes tentando espantar o frio, calminhos, quietinhos; deviam estar rezando, uma especie de danca da chuva as avessas.
Mas tem algo que me agrada muito nesse tempo de frio e chuva: o ar fica mais limpo e entao se ve a Cordilheira em toda sua graca. Da minha janela, no decimo terceiro andar, tenho 180 graus de vista de cordilheira, e esses dias ela tem amanhecido toda nevada. E, mesmo com ceu nublado, a luz do dia faz com que a neve fique cintilante... Uma coisa indescritivel!
Ontem foi feriado nacional, comemorando a vitoria do Chile na Guerra do Pacifico - em mil oitocentos e refrigerante sem gas - quando tiraram da Bolivia sua unica chance de ter saida pro mar.
Mas hoje nao eh feriado, aqui ninguem falou em Corpus Christi. E assim, enquanto trabalho, fico imaginando minha familia na fazenda ate domingo, meus sobrinhos crescendo sem que eu veja, minha irma ficando barriguda outra vez, e a vida vai passando, saudade apertando, mas eh assim mesmo, e no final das contas continuo bem.
O Chile eh lindo, as pessoas sao alegres e o estilo de vida aqui eh muito parecido com o nosso.

Minha colega de trabalho esta aqui me oferecendo carona no guarda-chuvas dela. Estou indo entao. Sem revisar o texto, pelo que me hao de perdoar os erros de pur-tu-gues.
Um beijo e bom feriado.
CRIS

quinta-feira, maio 15, 2008

O verso que me tem sustentado há pelo menos 6 anos:

"Eu é que sei que pensamentos que tenho sobre vós, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança". Jeremias 29:11

E ainda:

"Não temas, porque eu estou contigo. Não me olhes com desconfiança, porque sou teu Deus. Eu te dou forças, eu sou teu auxílio e te sustentarei com minha destra fiel". Isaías 41:10

Se não existisse Valparaíso, Santiago seria a capital dos cachorros de rua. Vivo em um conjunto habitacional que fica em um arvoredo com pracinhas, caminhozinhos e playgrounds. Tão simpático quanto antigo. Aqui vivem muitos estudantes e muitos aposentados. Tudo meio decadente, mas é o coração de Providência, então estou muito feliz. E, como em todo canto da cidade, aqui vivem muitos cães.
Tem um que odeia pessoas aleatoriamente, e às vezes odeia alguém de manhã mas não à tarde. Mas então eu descobri que ele não gosta mesmo é de sacolas de plástico. De forma que, se você passa por ele com sacolas de plástico, existe grande chance de que ele avance em você. Não chega a morder, apenas encaixa a boca na sua canela, o que já é suficientemente assustador.
Mas não o culpo: imagino a raiva que ele sente quando neguinho passa com suas sacolas cheias de guloseimas, e fome pra cão de rua! Imagino a raiva que ele sente ao cheirar o sanduíche suculento dentro de uma sacola de plástico, e fome pra cão de rua!
Não defendo nem ataco. Apenas sei que, se não existisse Valparaíso, Santiago seria a capital dos cachorros de rua.

ps: nas duas últimas semanas o frio se comportou e já não estou com tanto medo do inverno. Ainda não.