sexta-feira, maio 19, 2006

FOI ELE QUEM FEZ OS POBRES...

João Batista Figueiredo já tinha avisado! Quando o morro resolver descer, aí é que eu quero ver...
Parece que o dito apocalíptico já deu sinais de concretização na capital paulista. Há duas semanas, na web, em uma página de autoria de uma mineira radicada em São Paulo, lia-se a notícia de que várias empresas multinacionais, preocupadas com a segurança de seus funcionários, decidiram mimá-los com diárias no quintuplamente estrelado Caesar Park (café da manhã incluído). Só para os funcionários mais graduados, entenda-se bem. Na mesma página, entre os comentários, um carioca, malinha que só, tinha ares de satisfeito: “O Caesar do Rio fica na Vieira Souto. Ipanema. Entre o Arpoador e o Dois Irmãos. No lugar cujo metro quadrado é um dos mais caros do Brasil. O de São Paulo fica onde? Na 25 ou ao lado de alguma penitenciária? Ops, esqueci... do jeito que as coisas andam é bem capaz de até na Oscar Freire ter um delinqüente com uma tocha na mão!”.
Para quem não sabe, a Oscar Freire é onde o mercado de alto luxo se instalou em São Paulo. Se alguém tiver dez mil reais sobrando e quiser comprar um vestidinho básico, é para lá que deve ir. Talvez sobre até um trocado para um par de brincos, dependendo da grife. É lá que o já citado moço carioca prenunciou, sarcasticamente, a presença de um delinqüente com uma tocha na mão.
Não sei se é caso de rir. Também chorar para quê? Será que já não está mesmo na hora de a classe alta, e a média alta, e a média média, e a média baixa começarem a repensar o lugar do morro na sociedade? Quantos MV Bills e Celsos Athaídes terão que surgir documentando o escândalo do tráfico, quantas pessoas mais terão que morrer, quantos choques a população do asfalto terá que sofrer até que entenda que isto não se faz? Isto não se faz! Ignorar a existência do morro é feio, fingir que essas pessoas não existem é no mínimo mal educado. Não adianta querer explodi-los, que a vista mais bonita da cidade continuará sendo a deles, e eles explodirão o asfalto antes.
E, antes que alguém se sinta bonzinho demais porque deu um real para o menino de rua que vendia chicletes no sinal, contribuindo assim para a diminuição da desigualdade social, quero dizer a este tal, como também já disse a mim mesma muitas e repetidas vezes, que troque seu nome por dom João de Rodres.
“Dom João de Rodres/ caridoso sem igual / fez este santo hospital / como também fez os pobres”. (Epigrama de João de Iriarte – 1702-1771).
Obviamente, o mal não está em dar um real a quem precisa. É importante, sim, cuidar da necessidade imediata de pessoas que vivem na miséria. O problema é pensar que isso é o bastante, o pecado é sentir-se bom demais, caridoso demais, é ser saciado pelo sentimento de missão cumprida, quando na verdade um real não devolverá ao necessitado aquilo que lhe tiraram (ou que lhe tiramos?).
Aguarde só a hora em que o morro resolver descer de vez...
Gente é para ser tratada como gente, não como um bicho impróprio para conviver no nosso meio. Se ao menos esse bicho fosse o cãozinho da socialite Paris Hilton, ele podia ganhar uma coleirinha cravada de diamantes...

terça-feira, maio 16, 2006

sobre o orgulho

Benjamin Franklin, sobre o orgulho:

“Talvez não exista nenhuma paixão tão dura de subjugar quanto o orgulho. Disfarce-o. Lute contra ele. Sufoque-o. Mortifique-o quanto quiser. Ele continua vivo e vai de vez em quando espiar e aparecer... Mesmo se eu pudesse imaginar que já o venci, provavelmente ficaria orgulhoso de minha humildade”.

sexta-feira, maio 05, 2006

QUANDO ANTHONY GAROTINHO ESTEVE EM ITAÚNA

Quando Anthony Garotinho esteve em Itaúna, acho que no primeiro semestre de 2002, ele estava gordinho. Comia bem, sorria bastante e teve boa acolhida na terrinha banhada pelo Rio São João Acima. Pessoas de todos os bairros se amontoaram em volta de um palquinho na Praça da Matriz e não eram poucos os “Zaqueus” que se acotovelavam pendurados nos galhos das árvores para ouvir o discurso messiânico daquele evangélico que se aventurava pelas cidadezinhas do interior desenterrando votos. Salientei o fato de ele ser evangélico não porque o termo traga implicações em si, mas porque o discurso do moço se baseava quase que inteiramente nisso. Se era verdadeiramente discípulo de Jesus, ah, isto não me cabe julgar. Que era evangélico, estava na cara. Seu evangeliquês bem falado não deixava dúvidas. As palavras-chave estavam todas lá, enfileiradas, moldando o testemunho, tentando provar que ele era mesmo um enviado direto de Deus para concertar o país. Eu estava lá.
Seu discurso foi mais uma pregação. Usou toda sorte de alegorias para deixar a Palavra de Deus mais inteligível ao povo. Contou seu testemunho de conversão. Fez uso de toda sua técnica de oratória conquistada em anos de profissão como radialista. O prefeito da cidade era de outro partido político, mas estava lá. A população evangélica (eu incluída) batia palmas, feliz porque os altos cargos da administração local estavam representados ali e ouviam a Palavra de Deus. Sim, uma pregação.
O que ele propôs, naquela manhã de sol alto e céu limpo, foi algo parecido com uma teocracia nos moldes da antiga monarquia de Israel. Para embasar seu discurso, usou o texto bíblico que diz: “
Quando os justos governam, alegra-se o povo; mas quando o ímpio domina, o povo geme.” (Provérbios 29:2). Teocracia é o sistema de governo em que o representante máximo da nação é reconhecido como um enviado direto de Deus, um mensageiro. No caso do Brasil em 2002, Garotinho seria o tal.
Mas o garoto se esqueceu de um detalhe, talvez porque não soubesse mesmo: a monarquia davídica em Israel não foi assim tão maravilhosa como querem fazer crer os exegetas e estudiosos fundamentalistas. A própria Bíblia nos mostra isso nos livros que se basearam na tradição do Reino do Norte, declaradamente anti-davídico. Já foram encontrados documentos provando a opressão que se instalou no governo de Davi, e, muito mais, no governo de seu filho Salomão. Eles conquistaram outras nações, o império cresceu, mas muitas vezes as nações conquistadas não aceitavam pagar tributos a Israel. A coroa passava então a cobrar mais e mais impostos dos próprios israelitas para manter o aparelho de Estado (peço licença para usar o termo Estado para falar daquele momento histórico). Era preciso manter a corte, os castelos, era preciso manter o exército, os sacerdotes, tudo, tudo, e com dinheiro de tributos. Na época não havia bancos, obviamente. O dinheiro era entregue diretamente no Templo. E o Rei, sendo representante de Deus, recolhia o dinheiro e aplicava no que achasse que devia, sob o conselho dos anciãos.
Outro detalhezinho: até mesmo o fundamentalista e determinista Abraham Kuyper, teólogo reformado que viveu até as primeiras décadas do século XX, reconhecia a impossibilidade de um governo teocrático. Ele era contra não apenas a idéia levada às últimas conseqüências, mas era contra o princípio em si. Se ele, sendo tão ortodoxo, não gostava da idéia, acho que isso me dispensa de tecer meus comentários. Mas vou dizer assim mesmo.

A idéia de aplicar a noção de “escolhido”, de “redentor político e econômico” aqui no Brasil, mais ou menos 3000 anos depois de Davi, soa um tanto quixotesca. Mas o Garotinho não pensa assim: ele gritou aos quatro ventos que recebeu profecias de mulheres e homens de Deus dizendo que seria presidente do país. Daí que podemos entender ao menos um pouco dos motivos de sua greve de fome. Penso até que ele esteja protestando não apenas contra a cúpula do PMDB, a quem acusa de traição, mas está protestando também contra os profetas e suas profecias (ou profetadas?), e, por fim, contra Deus. Mas, afinal, onde foi que Javé errou?

segunda-feira, maio 01, 2006

Tente fazer o mesmo...

Primeiro de maio, feriado no país, e eu aqui estudando Teologia Reformada e Cosmovisão Cristã... James Orr, Kuyper, Dooyerweerd...
Não sei o que é pior, se é passar o feriado assim, sem nem um cineminha, ou se é estar amando estudar esses caras!...
Em tempo: eu concordo com muito pouco do que eles dizem, mas falam com propriedade, o que me faz gostar de saber o que têm a dizer. Um conselho? Não tentem fazer em casa.