O inverno chegou há uma semana, Santiago se pôs cinzenta e as pessoas sorriem menos. Casacos cheirando a guardado, mesinhas na calçada já bem mais vazias, portas e janelas cerradas.
Os santiaguinos dizem que a temperatura está ótima, mas eu, friorenta que só, já não sei se haverá edredons suficientes no mundo para o meu frio daqui a dois meses.
Inverno na Europa é uma coisa: na rua faz frio, mas todos os estabelecimentos e casas possuem sistema de aquecimento. Aqui não. Na maioria das casas, se está frio, então está frio.
A Cordilheira já começa a ficar coberta de neve no topo, nos seus tantos milhares de altura. Cá embaixo, na cidade, tem dia que a neblina não deixa ver o outro lado da rua. Mas não reclamo, acho bonito.
Melancolia veio no pacote e hoje senti muita saudade de casa. Saudade de ouvir Português, porque aqui não conheço brasileiros. E, de tanto querer ouvir Portguês, hoje assisti vários capítulos da novela no site da Globo com a senha da minha prima (Nanda, espero que não se importe).
Ontem fui a uma festa em uma cobertura maravilhosa, vigésimo sexto andar, com vista para os quatro lados. Muita música latina (principalmente el reggaeton) e gente de tudo que é lado: Bolívia, Chile, Argentina, República Dominicana, Nicarágua, além de mim e da Kristin. Fiquei triste quando a nicaragüense me disse que não existe mais resquício de sotaque mexicano no meu Espanhol, que era o que mais me deixava feliz na minha primeira semana aqui. Quatro pessoas me disseram que eu já estou com um sotaque bem chileno, o que não sei se é bom ou ruim. Mas eu já desconfiava que isso fosse acontecer. Eu vou ao Rio, volto com entonação meio de carioquês. Passo um dia conversando com alguém de São Paulo e lá estou eu, sem perceber, pegando expressões e entonações. Eu conto casos imitando as vozes, eu adoro perceber diferentes sotaques e me encanto pela diversidade. E, sem ver, acabo imitando o jeito como as pessoas falam.
O único problema é que o sotaque chileno não é bonito, pelo menos eu não acho.
Mas não tem jeito. É aqui que estou me tornando fluente e é o sotaque daqui que me marcará para sempre.
Como marcante tem sido este ano para mim, embora o preço às vezes me pareça um pouco alto demais.
E por falar em saudade, onde anda você?